Lula deve usar Davi Alcolumbre para tentar controlar CPI Vaza Toga
O tema da CPI Vaza Toga, que ganha cada vez mais relevo no debate público, suscita leituras ambíguas sobre o papel que o governo pode desempenhar para evitar que a oposição tenha maioria expressiva nas comissões. Segundo a Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder, o senador Esperidião Amin (PP-SC) protocolou requerimento para criar a tal CPI, inspirada numa investigação jornalística sobre supostos métodos usados pelo STF entre 2018 e 2024, e sobre o comportamento do TSE durante a campanha de 2022. A informação aponta para uma leitura de que, neste momento, o governo tentaria articular a mecânica política com o objetivo de tornar mais fraca a oposição. A ideia seria que o presidente do Senado — figura-chave na definição de tempo, composição e andamento das comissões — possa atuar para frear investigações que, de outra forma, teriam ampla adesão de parlamentares de oposição.
O enredo apresentado na coluna sugere um plano similar ao que se visa na CPI do INSS: manter uma base pró-governo com voz majoritária na condução de apurações, de modo a dificultar avanços que envolvam sindicalistas ou figuras socialmente alinhadas ao campo oposição. Nesse sentido, o nome de Davi Alcolumbre surge não apenas como símbolo institucional, mas como peça central de uma estratégia de governabilidade que pretende evitar que a CPI Vaza Toga ganhe tração divergente, com confrontos diretos entre Poderes.
Para muitos observadores, a pergunta central não é apenas sobre a existência de uma CPI ou sobre quem protocola requerimentos, mas sobre os limites da atuação parlamentar na fiscalização dos tribunais superiores e das prerrogativas presidenciais. Em política, a linha entre fiscalização legítima e pressão institucional pode se tornar tênue quando a coreografia do poder busca evitar constrangimentos ou desagravos políticos. O risco, nesse cenário, é que o uso estratégico de alianças dentro do Senado comprometa a percepção de independência das apurações, alimentando narrativas de que determinadas investigações são “mais críticas” quando conduzidas por ou para os interesses do governo.
Há ainda a comparação com a “CPI do Roubo do INSS”, citada na mesma linha de argumentação: caso se deseje manter o controle da pauta, a aposta seria ampliar o espaço de aliados próximos ao Executivo para neutralizar investigações que possam alcançar sindicalistas ou lideranças de partidos como PT e PDT. A leitura é de que a governabilidade, nesses quadros, passa pela capacidade de definir quem investiga, como investiga e quanto tempo de fala cada lado terá na comissão.
Entretanto, a dinâmica de uma CPI depende de mais do que vontades isoladas. Ela depende de votos, de composição, de prazos regimentais, de acordos entre forças políticas e, sobretudo, de uma imprensa atenta e de uma sociedade civil que não se permita reduzir a apuração institucional a um jogo de bastidores. Se o objetivo é fortalecer a governabilidade sem submeter a democracia a um ritmo de promessas não cumpridas, é preciso manter o escrutínio público, exigir transparência nos processos de indicação e assegurar que as investigações avancem com base em fatos, não em estratégias de curto prazo.