
PF apurou que Paulo Boudens recebeu R$3 milhões de empresa ligada ao roubo
Em mais um episódio que expõe a opacidade e o corporativismo no Congresso Nacional, parlamentares alinhados ao governo Lula (PT) barraram, nesta quinta-feira (9), a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Paulo Augusto de Araújo Boudens, ex-chefe de gabinete do senador Davi Alcolumbre (União-AP) e atual consultor no Senado. A decisão, tomada na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, rejeitou o requerimento nº 47 – 1961/2025 por 17 votos a 13, destacando uma clara estratégia de blindagem que compromete a transparência e a justiça no investigação do megaesquema de fraudes contra aposentados e pensionistas.
Paulo Boudens, homem de confiança de Alcolumbre, é suspeito de integrar a rede de beneficiários do roubo bilionário no INSS. Relatórios da Polícia Federal (PF) revelam que ele recebeu R$ 3 milhões da Arpar Participações, empresa identificada na cadeia de lavagem de dinheiro oriundo de descontos indevidos em benefícios previdenciários. Apesar das evidências, a base governista – composta majoritariamente por petistas e aliados – votou em bloco contra a medida, ignorando o apelo por accountability em um caso que afeta milhões de idosos vulneráveis.
A votação reflete uma preocupante falta de transparência na CPMI, instalada para desvendar fraudes que somam pelo menos R$ 6,3 bilhões em prejuízos ao erário e aos aposentados. O requerimento, apresentado pelo deputado Carlos Jordy (PL-RJ), solicitava relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e a quebra de sigilos de Boudens entre maio de 2023 e junho de 2025 – período chave das irregularidades. No entanto, com articulação explícita da base do governo, a proposta foi sepultada, permitindo que um suspeito com laços diretos ao poder continue imune a escrutínio mais profundo.
Críticos, como o senador Eduardo Girão (Novo-CE) e o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), denunciaram a manobra como uma "proteção institucional ao crime". Nas redes sociais, posts viralizaram listas dos 17 parlamentares que votaram contra, majoritariamente do PT, PSB e PDT, expondo a hipocrisia de um governo que se diz defensor dos pobres, mas obstrui investigações sobre roubo de pensions. "Os governistas não querem investigar, querem blindar!", disparou Jordy em vídeo que circulou amplamente.
Essa não é a primeira controvérsia envolvendo Boudens. Ele já foi flagrado em esquema de rachadinha no Senado, assumindo culpa para livrar Alcolumbre e sendo "premiado" com um cargo de consultor no Conselho de Estudos Políticos – uma entidade sem presidente efetivo, que lhe rende R$ 31.279,53 mensais pagos com dinheiro público. Agora, com R$ 3 milhões de origem suspeita, sua blindagem pela CPMI levanta suspeitas de conivência mais ampla, possivelmente para proteger figuras influentes no Legislativo e Executivo.
A rejeição do requerimento não só mina a credibilidade da CPMI como perpetua a impunidade em um esquema que explora a fragilidade de aposentados. Enquanto a comissão aprovou quebras de sigilo para dirigentes do Sindnapi (ligado ao irmão de Lula, mas poupando-o diretamente), a seletividade em favor de Boudens sugere uma investigação enviesada, priorizando alianças políticas sobre a verdade. Isso contrasta com aprovações para outros alvos, como Marco Aurélio Gomes e Danilo Trento, ex-presidente do INSS, mas deixa lacunas gritantes.
Especialistas em combate à corrupção alertam que tal opacidade fomenta a desconfiança pública e desestimula denúncias. "É um retrocesso à era da impunidade, onde o poder se auto-protege", comentou um analista em entrevista recente. Para as vítimas – viúvas, órfãos e idosos que viram seus benefícios dilapidados –, a mensagem é clara: a justiça é seletiva, e os poderosos estão acima da lei.
É imperativo que a sociedade exija mais transparência: transmissões ao vivo de todas as votações, relatórios públicos do COAF e pressão sobre o STF para acelerar prisões pendentes. Caso contrário, a CPMI do INSS arrisca se tornar mais um instrumento de encobrimento, em vez de ferramenta de justiça