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Tráfico de drogas da CIA: o nascimento da Aliança
Tráfico de drogas da CIA: o nascimento da Aliança

Tráfico de drogas da CIA: o nascimento da Aliança Obscura

Por Russ Winter 

Nos bastidores das operações de inteligência e do poder global, há uma narrativa obscura que conecta o tráfico de drogas à atuação da CIA, revelando uma rede de interesses que transcende as fronteiras convencionais. Desde os anos 1980, evidências e investigações apontam para uma aliança clandestina que favoreceu o contrabando de narcóticos, alimentando uma “Aliança Obscura” que ainda hoje influencia a política internacional.

Em 1982, um momento decisivo marcou a blindagem de agentes da CIA do escrutínio legal em relação ao tráfico de drogas. O procurador-geral William French Smith enviou uma carta ao diretor da CIA, William Casey, estabelecendo uma política de não relatar, investigar ou processar crimes de drogas cometidos por agentes, fontes e contratados da agência. Essa decisão foi formalizada em um memorando de entendimento (MOU) que isentava a CIA de denunciar qualquer atividade ilícita envolvendo seus agentes ou informantes, incluindo o tráfico de drogas.

O termo “ativos” foi o gatilho que permitiu a formação de uma rede protegida de criminosos sob o guarda-chuva da inteligência. Assim, enquanto a lei exigiria ações contra traficantes, o acordo permitia que agentes e fontes envolvidos em contrabando permanecessem impunes, protegendo uma verdadeira “sindicato do crime” encoberto por interesses de Estado.

O contexto histórico reforça essa conexão: no final de 1981, Ronald Reagan autorizou ajuda secreta aos Contras na Nicarágua, uma operação conduzida pela CIA. Pouco tempo depois, o memorando de 1982 foi firmado, criando uma blindagem legal para que agentes envolvidos no tráfico de drogas não fossem responsabilizados. Essa blindagem durou até 1995, abrangendo toda a era de conflito na América Central.

Documentos revelados posteriormente indicam que a CIA tinha conhecimento do envolvimento de seus agentes no tráfico. Em 1998, o senador John Kerry expôs que um memorando secreto de 1982 continha um apêndice que detalhava a participação de um agente da CIA na rede de tráfico de drogas em Los Angeles. As evidências sugerem que a agência tinha plena consciência do contrabando de narcóticos, mas optou por não agir.

O jornalista investigativo Gary Webb tornou-se uma figura emblemática na denúncia dessa relação escancarada. Sua série para o The Mercury News, intitulada “Dark Alliance”, expôs como a CIA teria facilitado o tráfico de crack em Los Angeles na década de 1980, alimentando a epidemia de drogas que devastou comunidades inteiras. Webb revelou que o relatório oficial do governo havia sido adulterado, omitindo informações cruciais sobre agentes envolvidos em atividades ilícitas.

Webb também descobriu que o Departamento de Justiça teria removido um apêndice do relatório da CIA, que detalhava a ligação de um oficial da agência com o tráfico local. Sua investigação apontava para uma conivência sistêmica: o governo sabia e deixou que o tráfico continuasse, protegendo seus interesses estratégicos e financeiros.

Em 2004, Webb foi encontrado morto com ferimentos de bala na cabeça — uma morte oficialmente classificada como suicídio. No entanto, sua morte suscitou dúvidas e teorias conspiratórias, reforçando a hipótese de que informações sensíveis sobre a cumplicidade do governo permanecem enterradas.

Outros documentos e depoimentos reforçam essa narrativa: em 1998, foi divulgado um memorando de entendimento secreto que permitia o tráfico de drogas por agentes da CIA sem a necessidade de denúncia às autoridades federais. Essa política, vigente por 13 anos, facilitou operações de contrabando durante toda a Guerra dos Contras e os conflitos na América Central, protegendo traficantes de alto nível e facilitando o financiamento de atividades clandestinas.

Mais recentemente, o julgamento de Joaquín Guzmán, o “Chapo”, revelou depoimentos que reforçam a teoria de que altos políticos e figuras de poder receberam pagamentos para proteger cartéis de drogas. Segundo testemunhas, Guzmán teria pago milhões de dólares ao então presidente mexicano Enrique Peña Nieto para evitar sua captura — uma evidência de conivência entre o narcotráfico e o Estado.

Além disso, diversos ex-integrantes do cartel de Sinaloa, como Vicente Zambada Niebla, revelaram que agentes federais facilitaram negociações e forneciam informações em troca de proteção e liberdade operacional. Essas revelações reforçam a hipótese de que, durante anos, o governo americano manteve uma política de tolerância e até colaboração com organizações criminosas de grande porte.

A relação entre a CIA e o tráfico de drogas não é um episódio isolado, mas uma estratégia de poder que visa proteger interesses estratégicos e financeiros. Através de documentos sigilosos, investigações e relatos de insiders, ficou evidente que uma “Aliança Obscura” permitiu a perpetuação de uma rede de narcotráfico que alimentou guerras, financiou grupos paramilitares e devastou comunidades ao redor do mundo.

Apesar das tentativas de silêncio e ocultamento, a verdade vem à tona, revelando uma história de corrupção, impunidade e manipulação que desafia os limites do que se conhece oficialmente. A luta por transparência e justiça continua, enquanto o legado dessa aliança obscura permanece como uma sombra sobre a história moderna.

 

 

   

 

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